terça-feira, 22 de abril de 2008

Relembrar o que se passou o ano passado!


Fica aqui o relato de quem lá esteve... para inspirar e dar o mote do que será a de Grande e Única Verdadeira Manifestação pela Liberdade em Portugal!
Há um ano atrás tinha sido aquele pandemónio na Rua do Carmo...


"Texto do Blogue Spectrum:



NA RUA DO CARMO

Estranhem o que não for estranho.
Tomem por inexplicável o habitual.
Sintam-se perplexos ante o quotidiano.
Tratem de achar um remédio para o abuso
Mas não se esqueçam de que o abuso é sempre a regra.

Rua do Carmo, rua do Carmo
Mulheres bonitas, subindo o Chiado
Mulheres alheias, presas ás montras,
Alguns aleijados em hora de ponta
Soprando a vida, passam estudantes
Gingando as ancas, lábios ardentes
Subindo com pressa, abrindo passagem
Chocamos de frente, seguimos viagem

Então é assim. Cerca de 200 a 300 pessoas manifestaram-se a seguir às comemorações oficiais do 25 de Abril, numa manifestação anti-autitária, anti-fascista e anti-capitalista, iniciada às 18h30 na P. da Figueira e que terminou no Lg. Camões cerca das 19h30. A manif decorreu rapidamente e embora estivesse rodeada de um considerável dispositivo policial (não foi autorizada), não houve incidentes. Ao longo do percurso foram pintadas algumas frases na parede e atiradas algumas lâmpadas com tinta a vidros de lojas e bancos. Ninguém partiu montras.

Evidentemente, comparada com a parada que desceu a Av. da Liberdade a lançar palavras de ordem de há 30 anos, esta manif assumiu um aspecto bastante mais combativo e radical, com palavras de ordem viradas para o presente e não para o passado. Nesse sentido, foi a resposta que se impunha ao crescimento da agitação e provocação fascista dos últimos tempos. Foi também a primeira vez, desde que me lembro, que uma manifestação no dia 25 de Abril teve um cunho de combate e conflito minimamente à altura dos 18 meses que se seguiram ao 25 de Abril de 1974. Desde logo, a manifestação teve a vantagem de se dirigir, não à imagem difusa, consensual, que celebra a democracia que temos, mas antes de exprimir a vontade de libertação não cumprida que caracterizou o período revolucionário. Deu ainda uma expressão prática ao apelo que Cavaco Silva, sempre brincalhão e jovial, dirigiu aos jovens: os manifestantes não se resignaram perante as dificuldades e, insubmissos q.b., procuraram à sua maneira reinventar os festejos do 25 de Abril.

Chegada ao Camões, parte da manif desmobilizou. Outra parte, cerca de 100 pessoas, sentiu que algo estava por fazer e decidiu correr o risco de efectuar o percurso no sentido inverso, atingindo a sede do PNR, situada na Rua da Prata. Nesse sentido, desceu a Rua Garrett, passando por um considerável aparato policial e acompanhada de bastante perto por alguns polícias à paisana, o chefe dos quais está na fotografia acima colocada.

A este ponto a manif era composta por um núcleo de pessoas de cara tapada e vestidas de preto, bem como várias pessoas que simplesmente queriam ver o que iria acontecer. Esta manif era bem menos compacta do que a que tinha subido o Chiado e, levadas pelo entusiasmo, as pessoas que seguiam na dianteira iam a uma velocidade bastante grande. Por altura dos Armazéns do Chiado, e após um curto impasse para decidir o melhor caminho, seguiu pela Rua do Carmo. A este ponto também, alguns dos manifestantes batiam com os suportes das bandeiras em cartazes e mais bolas com tinta foram enviadas para montras. O Chiado estava bastante mais vazio do que uma hora antes, o que aliás é habitual. Nada havia sido partido. Nenhuma agressão havia sido feita.

Foi aqui que dois ou três manifestantes pararam para escrever um grafitti: "O 25 de abril passou mas a lei do bastão continua". O resto da manifestação continuou, exceptuando um pequeno grupo que ficou a garantir a sua segurança e em vão gritou para os da frente para que esperassem e abrandassem. Quando a frase já estava a ser terminada, um grupo de polícias à paisana, presumivelmente agentes do SIS ou da Judiciária, cercou os seus autores e procurou detê-los, sendo por sua vez cercado pelo pequeno grupo que ficara para trás. Uma rápida troca de empurrões permitiu às forças da ordem compreender que não estavam a lidar com um bando de miúdos assustados. Os agentes largaram as pessoas que tinham agarrado, sacaram de bastões extensíveis e recuaram em grupo. O fascista nojento da foto acima, a menos de 5 m de mim, falava pelo rádio chamando o corpo de intervenção. O resto da manifestação, que já tinha passado o elevador de Stª Justa, apercebendo-se do que estava a ocorrer nas suas costas, voltou a correr para o cimo da Rua do Carmo. Um very-light foi lançado para o ar. Chegaram duas carrinhas do corpo de intervenção ao cimo da rua e, simultaneamente, uma à parte de baixo, vinda do Rossio. Os respectivos passageiros saíram e carregaram. Nem todos tinham escudo e capacete.

Alguns manifestantes procuraram agrupar-se para travar a carga policial, mas a maior parte encostou-se simplesmente às paredes da Rua ou refugiou-se em lojas.

O chefe do corpo de intervenção gritou aos seus subordinados que parassem após a primeira carga, constatando que não havia uma resistência digna desse nome e que se passava agora ao simples espancamento dos manifestantes. Não teve qualquer sucesso e, constatando-o, juntou-se aos seus homens dedicando-se aquilo que sabe fazer melhor.

Os polícias vindos de cima gritavam aos manifestantes que dispersassem enquanto lhes batiam com os bastões. Os que vinham de baixo gritavam aos manifestantes que fossem para cima, enquanto lhes batiam com os bastões, naturalmente.

As pessoas que caíram no chão foram pontapeadas e levaram bastonadas. As que se encostaram à parede foram também espancadas, a maior parte sem esboçar qualquer resposta. Tod@s os/as que esboçaram alguma resistência foram especialmente atacados, mas conseguiram, na sua maioria, manter a polícia a alguma distância e fugir, pela parte de baixo da Rua, sendo perseguidos até ao Rossio, dispersando em seguida. Doze pessoas foram presas, tendo algumas delas sido agredidas quando já estavam detidas, à boa maneira policial.
A polícia poderia ter prendido toda a manifestação se quisesse. A polícia poderia ter simplesmente dispersado a manifestação se quisesse. A polícia quis, em vez disso, espancar o maior número possível de pessoas, provocar-lhes medo e assegurar que a sua autoridade não voltaria a ser desafiada.

É difícil acreditar que alguém na manifestação tivesse coktail's molotovs e, perante tão eloquente demontração do fundamento democrático da autoridade policial, tivesse hesitado em utilizá-los. Teria tido pelo menos a vantagem de manter a polícia à distância o tempo suficiente para o grosso da manifestação fugir. Nesse aspecto, a carga policial deu toda a razão a quem levou para a manif bandeiras com cabos de metal. As mãos nuas não são propriamente as ferramentas indicadas para enfrentar a autoridade policial.

Diga-se aliás, que caso a manifestação tivesse demonstrado a intenção firme e a inteligência táctica para resistir, não lhe teria sido difícil fazer a polícia recuar. Organizado como um bando de energúmenos que gostam de bater em pessoas assustadas, sem qualquer organização ou método, o corpo de intervenção não passa de um bando de rufias fardados e equipados à nossa custa. Qualquer dia calhar-lhes-à na rifa algo mais do que claques de futebol.

Aos que lamentam os grafitis em prédios novos relembro apenas os milhares de murais e pintadas que enchiam até há poucos anos as paredes e muros da cidade, fazendo-nos pensar que esta nem sempre foi o cenário das vidas entediantes que levamos e que aqui, em tempos, foi desafiada a ordem capitalista das coisas. Esses murais e pintadas eram inequivocamente mais novos e modernos do que qualquer renovação urbana do "coração comercial da cidade". De resto, a liberdade de transformar permanentemente o espaço urbano que se percorre diariamente é um patrimonio bem mais agradável do que as fachadas de lojas que a polícia alegadamente procurava defender. Acerca disto não existirá nenhum consenso.

Para terminar. A autoridade, o poder, o monopólio da violência, a propriedade privada, estão tão largamente inscritas nos nossos imaginários que até parece estranho que alguém desafie esses pilares da civilização ocidental. Apenas parecemos capazes de nos indignar ou lamentar a violência policial "excessiva". Relembro a esse propósito que a violência policial em Portugal nunca foi outra coisa senão excessiva. A não ser, é claro, quando se trata de perseguir criminosos poderosos. No que toca à extrema-direita as autoridades policiais tratam-na como se não fosse mais do que uma versão um pouco mais radical e para-militar do SEF.

Uma concentração de trabalhadores à porta de uma fábrica encerrada, na Amadora, motivou à poucos meses uma carga policial. Vários jovens dos bairros pobres da periferia são continuamente espancados e perseguidos pela polícia, quando não mortos a tiro pelas costas. Uma casa ocupada foi desalojada há 2 anos pelo GOES, de arma na mão, sem aviso prévio, de madrugada, tendo as pessoas sido levadas directamente das suas camas para celas prisionais. Uma marcha contra o encerramento do serviço de urgências, em Caminha, sofreu uma carga policial.

Abunda a indignação e a condenação, escasseia a resposta que se impõe. Que sentido pode fazer falar do dia da liberdade quando se sente, de forma tão clara, em nosso redor, ao nosso lado, à nossa frente, semelhante dispositivo de violência?

De uma vez por todas, a bófia bate nas pessoas porque tem medo. E tem razão em ter medo. A violência não é boa nem má, a violência é."

http://spectrum.weblog.com.pt/arquivo/2 ... rmo_1.html

Que vais fazer? Tens a coragem de ficar quieta á espera que os outros lutem por ti? Povo de brandos costumes? Ou será que este chavão é simplesmente uma forma simpática de nos chamar COBARDES?!?!

Dia 25 Todos á Luta!!! Todos ao COMBATE!!

ACAB

9 comentários:

Anónimo disse...

não estás a deixar a política de lado..

ACAB Portugal disse...

Achas que não? O Texto é na integra retirado de um outro blog,simplesmente o coloquei aí porque é um fiel testemunho do que se passou o ano passado.Acho quem como eu sabe o que é a violência policial não ficou indiferente ao que se passou o ano passado, por isso o meu apelo á participação nesta manisfestação, não por ser no dia 25 de Abril já que para mim todos os dias são dias de Liberdade, todos os dias são dias de Luta e de Combate, todos os dias são dias para Lutar contra a Violência Policial.

ACAB

Anónimo disse...

FDX que se passa pá?! Queres uma guerra civil é? TODOS AO COMBATE??!!! Vai ao estádio e combates todas as semanas,como todos nós.Ah mais uma coisa ,isto não era suposto ser APOLÍTICO?

Anónimo disse...

Mais nada ACAB PORTUGAL,a violência policial tem que ser combatida de qualquer maneira seja ela violência sobre anarcas,skins,pretos,adeptos de futebol,etc...Continua o bom trabalho,o teu blog já está nos meus favoritos á muito tempo

Ass:Alguem que já sofreu na pele desses filhos da puta sem razão nenhuma

ACAB Portugal disse...

A vida é mais que um Estádio. Eu passo grande parte da minha vida nos Estádios mas vivo e trabalho pelo resto do Mundo!! Ser Apolitico não que dizer ser cego nem ser burro. Se repares bem é uma Manifestação contra a Violência Policial, onde é que está a merda da Politica???

Anónimo disse...

Tens razão,não fala directamente de política.Se bem que a repressão policial é em si mesma uma questão de política.Quanto à vida ser mais do que um estádio,agradeço a lição mas dispenso-a,sei-o muito bem.Dei o estádio como exemplo por ser o local onde é mais visível e generalizada a violência sobre os cidadãos.

ACAB Portugal disse...

Compreendo o teu ponto de vista mas garanto-te que a Repressão Policial é muito mais sentida no dia a dia de um Bairro dito social do que aos fins de semana no Estádio. Como é óbvio e infelizmente a dos Estádios é mais falada. Não leves o meu ponto de vista como uma tentativa de lição, lições dão os que gostam de mandar e julgar. Eu gosto é de Lutar pelos meus ideais!

Todos á Luta!!

ACAB

Anónimo disse...

lutar por ideais e' uma questao politica! lutar pelo ideal da luta, isso sim, e' apolitico.

Anónimo disse...

Sou anaquista já a bastante tempo.
Sou sincero , não gosto de apoliticos , por uma simples razao , um dia são anti-racistas noutro são racistas.
sabemos perfeitamente como tudo funciona dentro dos estadios , mas nós nao vivemos 7 dias por semana la dentro , vivemos numa sociedade de merda , que quem rouba mais é o elo mais forte.

www.ultrascontraoracismo.blogspot.com

abraços e uniao